quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Empatia

Carmen Sílvia Musa Lício

Assisti outro dia a um filme que vocês, assim como eu, já devem ter assistido. Levei-o para rever com a minha mãe, pois é um clássico: “O Julgamento de Nuremberg”.

Além de muito bem feito, com ótimos atores, nos traz um assunto já bastante discutido: o extermínio de 2,5 milhôes de judeus, sem uma razão, qualquer que seja, plausível. Neste filme aparece um psicólogo que fica encarregado de cuidar da parte psicológica dos militares alemães que seriam julgados pelos crimes cometidos contra os judeus. Lá pelas tantas, ele, um judeu, que não conseguia entender como um ser humano poderia cometer aquelas atrocidades a tantos outros seres, também humanos, fala que depois de muito pensar e avaliar os presos, chegou à conclusão que todos eles, apesar das diferenças, tinham algo em comum: a falta de empatia... Ele repetiu isto por várias vezes, e isto acabou ficando na minha mente...

Empatia é colocar-nos no lugar de outra pessoa tentando entender como ela se sentiria diante de algum acontecimento ou de algo que lhe dissermos...

Estamos vivendo uma época onde as pessoas tentam entender o que elas próprias estão sentindo, tentando satisfazer às suas próprias vontades e necessidades. Está cada vez mais difícil colocar-nos no lugar da pessoa com quem estamos falando, tentando ver se ela está entendendo o que dizemos, se não a estamos ofendendo, enfim, tentando ver como nós nos sentiríamos se alguém nos falasse ou tratasse como a estamos tratando...

A primeira vez que escutei a palavra empatia, e a entendi completamente, foi na faculdade de enfermagem (nos idos de 1973), numa aula de psicologia. Achei muito interessante e percebi que havia escolhido a carreira de enfermagem devido a esta “tal da empatia”, pois sempre procurei tratar os outros de uma forma digna, que não viesse a ofende-los, humilha-los ou o que quer que seja...

Quando perdi a minha irmã, com 15 anos, vítima de acidente de carro, fiquei surpresa com a minha facilidade de tomar as devidas providências, sem criar mais problemas do que os que já foram criados por outrem. Nesta época estava com 17 anos e estava decidida a me tornar uma física nuclear (vejam só!).

Este acidente mudou o rumo da minha vida...

Durante quase um mês, fiquei andando de um hospital para outro para ver como estava cada um dos acidentados (meus pais e minha irmã); comecei a ver como as pessoas ficam fragilizadas numa hora dessas, tanto os acidentados quanto os familiares e amigos. Aí, comecei a ver que este era um campo onde eu gostaria de atuar, tentando minimizar a dor, tanto física quanto emocional, de todos os envolvidos... Sempre gostei de lidar com pessoas...

Desde então, vejo a enfermagem, não como um sacerdócio (só me faltava esta!), mas como uma das missões da minha vida... Algumas vezes pensei em mudar de profissão devido à falta de reconhecimento, tanto profissional quanto monetário (posso dizer “remuneratório”?), pois, como eu dizia há 30 anos atrás, “a enfermagem teve um passado duvidoso, um presente incerto e talvez um futuro não muito brilhante”.

Nestes 30 anos de jornada, já passei por muitas fases e situações completamente diferentes umas das outras. Também muita coisa mudou com relação à enfermagem, sendo que a mesma já é reconhecida por outros profissionais e também pelos pacientes (só falta o retorno monetário). Agora podemos dizer que a enfermagem já tem um presente duramente conquistado, e um futuro promissor, com um retorno maior em todos os aspectos...

Mas voltando à empatia, deveríamos tentar passar para esta nova geração, através da educação informal (em casa), da educação escolar, da mídia... o conceito e a vivência da palavra “empatia” e, desta forma tentarmos diminuir a violência, a falta de compaixão pelo próximo e as mazelas sociais... Só assim, creio, poderemos ter esperança de um mundo melhor, sem tanto egoísmo e, quem sabe, até um pouco mais altruísta, mais sincero, mais justo...

4 comentários:

  1. Oi Carmen, muito bom seu artigo, desde o filme até o comentário do acidente com a sua turma, coisa horrível o que os acidentes nos provocam.
    Menina, obrigado pelas visitas e pela explicação que me deu a respeito de seu irmão.
    Um beijo do teu amigo, ZC

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  2. Minha mana idiotiva. Empatia corre de mãos dadascom a misericórdia, não? Mas as pessoas tem dificuldades de cultivar tanto uma como a outra. Como resultado,sofremos inutilmente.
    Bj saudoso

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  3. Zá Carlos:

    fico muito feliz quando o vejo por aqui... Sério!!!

    Gostei muito do seu artigo também e vejo que é muito atual, sempre!!!

    bjs

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  4. Rubinho:

    É verdade, a empatia mora junto com a misericórdia e com a compaixão.

    Devemos cultiva-la e passar para as próximas geraçõs, pois o artigo anda em falta, parece...

    bjs saudosos

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