sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Resiliência

Carmen Sílvia Musa Lício

Êta palavra difícil!!! Que vem a ser isto? Demorei mais de meio século para escutar e saber seu significado. Como consegui viver tanto tempo sem saber “que raios” vem a ser isto, não sei! Não sou “expert” no assunto, mas, trocando “em miúdos”, resiliência é a capacidade dos materiais de, após algum impacto, retornarem ao seu estado original.
Os engenheiros usam este termo para falar dos materiais a serem utilizados em alguma obra; de sua capacidade de suportarem adversidades...e continuarem com as suas características originais.

Pois é, resiliência é um termo interessante, que pode ser aplicado às pessoas... Tem pessoas que são resilientes, ou seja, conseguem se refazer rapidamente após as “intempéries da vida”, após uma perda importante, após um acidente, separação ou trauma... Outras, após qualquer acontecimento desagradável e inesperado, parece que se “esborracham” emocionalmente, ficando, às vezes, sem ação, ou demoram a voltar ao “seu normal”.
É como a dor, cada um tem seu limiar de dor... Enfim, umas pessoas são mais resilientes, outras menos!!!

Quando o governo resolve aumentar os impostos, haja resiliência! Quando o nosso cônjuge resolve nos trair, haja resiliência! Quando recebemos contas e mais contas a pagar, haja...e haja...e haja... Haja resiliência, e paciência, e bom humor, e sei lá mais o que...

É necessário “quilos” de resiliência (será que pode quantificar assim? Ou será que é como o PEI dos pisos cerâmicos? Confesso a minha ignorância “engenheirística”...) para continuarmos “firmes” após os telejornais diários, só nos falando de assaltos,. da miséria que grassa em nosso país (não confundir com graça, pois de graça não tem nada; só desgraça...).

Todos os dias ficamos sabendo de mais uma tragédia, de mais uma guerra, de mais alguma falcatrua do governo, de mais algum “crime de colarinho branco”, que de tão antigo, deveria ser chamado “crime de colarinho encardido”.

Deveríamos ser resilientes ao extremo!!! Após uma noite mal dormida, acordaríamos com “cara de anjinho”. Após aaaanos de vida, continuaríamos com “tudo em cima” (e em baixo também!). Não seria “por demais”???

Bom, voltando ao nosso termo, você deve estar se lembrando de infinitas situações que, se fôssemos resilientes, conseguiríamos atravessar com um estofo bem maior!

Vocês se lembram daquele boneco inflável que ganhávamos de presente quando crianças, que, por mais que você batesse, chutasse, ou jogasse para o alto, conseguia cair e se manter em pé, e sorrindo? Era divertido tentar desequilibrar o “João bobo”. Por mais que tentássemos, o João bobo voltava a se manter em pé, mesmo que demorasse um pouco mais, dependendo da queda ou da altura que fosse jogado...e sempre com um sorriso... Pois é, o João bobo era resiliente!!!

Eu também quero aprender a ser mais e mais resiliente, apesar dos revezes, das inúmeras adversidades, e ficar firme, sempre em pé, mas não com o sorriso do João bobo... Resiliente, sim; “João bobo alegre”, não!!!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Por que nos sujeitamos a tanta coisa???

Carmen Sílvia Musa Lício

Tenho visto tantas mulheres se sujeitarem a tantas situações inacreditáveis, de dar dó, ou raiva, sei lá...

A mulher conquistou duramente o seu espaço. Faz parte atuante do mercado de trabalho, da direção das empresas, do cenário político, enfim, “faz e acontece”.

Além do trabalho fora, continua em seu turno cotidiano familiar, procurando equilibrar-se na corda bamba entre os afazeres “trabalhísticos” e afazeres domésticos, como dona de casa, esposa e mãe...

Se alguém fica doente, é a mulher que tem que se sacrificar e faltar ao serviço para levar um dos filhos ao pediatra, ou correr para dar um jeito de “dar conta da criança”, do serviço ou, pelo menos, “arranjar” alguém para ficar com o “filhote” até poder voltar para casa, esbaforida, preocupada, “atropelada”, cansada, mas com “pique” para cumprir o seu turno noturno (tomara que o filho durma bem esta noite!). Isto sem contar se o marido não resolver “bater o cartão”; afinal, ela é sua mulher.

Isto que estou escrevendo não é nenhuma novidade, sei disto... Realmente, para um casamento dar certo, temos que abrir mão de muitas coisas, que nos desdobrarmos entre multi-tarefas, entre o “óbvio e ululante” e o imaginável e esperado, às vezes não tão claro.

Voltando ao início, tenho visto algumas mulheres se sujeitarem a situações, no mínimo, insustentáveis. Como aceitar um casamento onde a mulher, além de trazer o provimento para casa, é rotulada de “preguiçosa”, ou de incompetente, ou ainda é desrespeitada, quando não agredida verbalmente e, às vezes, até fisicamente?

Creio que se um casamento não está mais “dando certo”, é melhor cada um ir viver a sua vida e se separarem conservando um certo respeito. Ninguém é obrigado a conviver com ninguém. Mas tenho visto algumas mulheres se sujeitarem a um casamento de frustrações, de reclamações eternas, de descaso, de traições; tudo isto para não perder “o padrão”, não ter que “dividir o patrimônio”, por medo de ter que “ir à luta” para criar e educar os filhos sozinha.

Creio que isto, além de não fazer bem à própria pessoa, também não faz bem aos filhos. Em que clima estes “inocentes” crescerão? E qual é a idéia que terão sobre o casamento?

Não sou a favor de separações, muito menos as incentivo... Devemos investir na relação, não só esperarmos que o outro “cumpra a sua parte”, nem que “o outro mude”. Cada um tem que investir muito para um casamento dar certo. Temos que fazer concessões, colocar limites, sabermos “negociar”( no bom sentido). Um casamento só dará certo se houver muita compreensão, respeito, amor e cumplicidade (Será que estou querendo demais?). Ah! me esqueci, também tem que haver uma boa dose de perdão! Ainda tem que haver mais coisas como solidariedade e muito, muito diálogo. Muitas vezes um dos envolvidos não se comunica e já tira conclusões a respeito de algum acontecimento ou atitude do outro, e daí vai... Cada um tira suas conclusões, em geral precipitadas e até errôneas...

A comunicação entre o casal é algo muito importante a ser preservado e cultivado.

Não dá para viver um casamento de “faz de conta” nem nos acomodarmos para não “sairmos perdendo”. Quando nos sujeitamos demais, corremos o risco de acabarmos nos anulando e entrarmos em depressão, ou passarmos pela vida sem vivê-la. Será que é isto que queremos para nós, para os nossos filhos?

Creio que tudo o que acontece conosco serve para nos fazer crescer como seres humanos. É muito bonito vermos uma pessoa sair do marasmo, e “ir à luta”, tentando se superar, aprendendo com os próprios erros e com os erros dos outros. Sim, com os erros alheios! Não precisamos cometer “todo tipo de besteira” para aprendermos. Podemos “nos economizar” e percebermos que algumas atitudes não nos convém. Para que “bater com a cabeça por aí” para depois percebermos o quanto nos machucamos? Sejamos mais coerentes, aprendendo com a vida...

Já vi muitas mulheres que, quando viram seu casamento “ruir” como castelo na areia, e que, após o “período de luto”, se levantaram e, para tentar dar um futuro melhor para si e para os filhos, estudaram o que não puderam estudar antes (ou não quiseram) e, aos poucos, saíram “do caramujo”, caminhando pela vida com novas perspectivas... Isto sim é “dar a volta por cima”!!! A estas mulheres batalhadoras e incansáveis “tiro o meu chapéu”!!!

Também considero verdadeiras heroínas as mulheres que conseguem se equilibrar entre o casamento, a casa, os filhos e o emprego!!! Têm que fazer uma ginástica física e mental enormes, pois não é fácil dar conta de tudo e ainda permanecer firmes, pacientes e acolhedoras ao mesmo tempo. E haja saúde para suportar todas as tormentas da vida!!!

Cada uma tem encontrar a melhor maneira para manter ou não um casamento. É bom investir num relacionamento... o que não dá é para “ir levando”. Melhor seria procurarmos um equilíbrio a fim de vermos qual a melhor conduta, e não nos arrependermos mais tarde. Não devemos jamais tomar atitudes precipitadas; em época de crise é melhor pararmos para pensar e depois tomarmos uma atitude com maior clareza.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Relacionamento a Dois


Carmen Sílvia Musa Lício

Um dos relacionamentos mais difíceis de se compreender e de se manter é o relacionamento conjugal. Quando digo conjugal, estou falando do relacionamento entre um homem e uma mulher, morando debaixo do mesmo teto, casados ou não.

Você deve estar me achando “topetuda” por tentar escrever sobre este assunto tão controverso... Também acho; afinal não sou psicóloga, mas não tenho a pretensão de ser “a última palavra sobre o assunto”, muito menos esgotá-lo. Apenas quero tecer alguns comentários sobre o assunto, baseada na minha vivência pessoal, no que tenho lido, visto ,ouvido e pensado a respeito... Espero que sirva de ajuda para alguns, de “provocação positiva” para outros, enfim, de estímulo a pensarmos no assunto com mais cuidado.

Desde que nos entendemos “por gente”, pensamos em encontrar o nosso parceiro(a), aquele (ou aquela) que nos completará, que nos fará sentir aquele “friozinho na barriga”, ou pensar que temos “borboletas no estômago” quando o (a) vemos.

Então, lá pelas tantas, encontramos o tão idealizado parceiro, ou parceira. Começamos a namorar, a nos conhecer e, após algum tempo (que julgamos o suficiente, mas talvez não o necessário), resolvemos nos tornar “um só”. É aquela alegria! Tudo fica lindo, ficamos “nas nuvens”...

Só que após um tempo de convivência começamos a ver que “não era bem assim” que imaginávamos que seria o nosso “caso de amor”. Aí vem o “acordar para a realidade”, o “cair das nuvens”, a decepção, a revolta, a melancolia... Enfim,cada um tem a sua maneira de vivenciar esta fase.

Como ainda estamos apostando no tal relacionamento, procuramos nos adequar, fazer acordos, tentamos ver o “outro lado” para vermos como agir ou reagir... sei lá!

É nesta fase que mostramos se somos ou não maduros e se sabemos nos adaptar a novas situações. É uma boa oportunidade para amadurecermos e colocarmos na balança os prós e contras deste relacionamento (o que já deveríamos ter feito antes de nos aventurarmos em tamanha empreitada) e procurarmos juntos solucionar ou diminuir nossas diferenças. É um processo moroso, de muitas renúncias (de ambas as partes), de exercitarmos o perdão, de termos muita paciência e aprofundarmos o amor, enfim, alcançarmos uma vida a dois, apesar de conservarmos a nossa individualidade. Conseguindo superar esta fase, criamos um elo mais profundo e duradouro e conseguimos criar um clima de maior entendimento, cumplicidade e intimidade.

A dificuldade de um relacionamento a dois já começa pelas diferenças entre os sexos (estou sendo previsível demais?). Não vou escrever sobre as diferenças anatômicas, pois são óbvias demais, mas das diferenças emocionais, culturais e de expectativas entre os sexos...

A mulher, desde pequena, é criada para ser a parte “mais frágil” do relacionamento, para viver em função da família, para ter filhos e “ser cuidada” pelo esposo, o “provedor do lar”.

É verdade que estes papéis estão em constante mudança e já não é mais tão simples assim.

Mas, a mulher espera do casamento segurança, tanto física quanto emocional, e muitas “coisinhas” mais, tais como: respeito, atenção, cavalheirismo, companheirismo, proteção, valorização... ao mesmo tempo que quer se realizar, ter liberdade e autonomia. Enfim, que o homem satisfaça todas as suas necessidades, sendo compreensivo, acolhedor, forte, sábio.

Ao mesmo tempo que quer “pertencer”, quer ter independência... Dá para acreditar? Quer que o esposo seja líder, mas ao mesmo tempo seja gentil... Qual é o “super homem” que consegue ser tudo isto, e mais um pouco? Temos que lembrar que homem algum será capaz de preencher todas as suas necessidades. É simplesmente impossível!!!

Aliás, não podemos esperar que o outro preencha todas as nossas necessidades, ou então o casamento estará fadado ao fracasso...

A mulher precisa sentir que os seus sentimentos são validados pelo esposo, mesmo que pareçam confusos para ela, e ser por ele aceita, “apesar de tudo”. Se, às vezes, nem ela se entende!!! Necessita ainda da aprovação do marido, para manter a sua auto-estima, e de escutar sempre que ele a ama, para se sentir segura. Isto faz parte do “ser” da mulher.

Quando um homem diminui freqüentemente a sua mulher, tanto em público quanto em particular, acaba destruindo a sua auto-imagem, sua auto-estima e o seu senso de identidade própria.

Por outro lado, o homem é educado para ser o “provedor do lar”, o responsável pelas decisões mais importantes, o chefe do lar. O instinto do homem é lutar para conquistar, para vencer...

A casa e os filhos, enfim, o lar, é uma extensão da personalidade da mulher, assim como o trabalho é uma extensão da personalidade dele. Mesmo que a mulher trabalhe fora, sua prioridade é sempre o bem estar da sua família...

Enfim, o homem resume-se em “ação”, enquanto a mulher resume-se em “emoção”. Será que estou simplificando demais? Talvez esteja...

Não é difícil vermos, portanto, por que a dificuldade de nos entendermos com o nosso parceiro... São expectativas diferentes, mundos interiores muito diversos, histórias de vida singulares, objetivos diferentes...

Hoje em dia, os casais casam já pensando que “se não der certo, caio fora”. Na primeira dificuldade já começam a pensar em desistir, se compensa continuar e coisas “do gênero”. Desta forma acabam não se empenhando o suficiente para que a situação seja resolvida. Muitas vezes agimos de forma leviana e egoísta, sem nos importarmos com o que o outro está sentindo ou pensando. Assim fica difícil entrarmos em acordo e o amor vai se gastando, desgastando, até acabar.

O casal que pensa estar se casando somente com o outro, deixando a família de lado, está redondamente enganado. O parceiro é fruto da sua família, com seus erros e acertos, suas crenças, sua bagagem de vida... Não dá para o casal se “isolar”, julgando que nada os afetará...O “pacote” é completo, não dá para “compartimentalizar”, fingindo que nada vai nos afetar. Os revezes da família do outro acabam exigindo de nós, muitas vezes, tomadas de decisão que nos afetarão como casal e como família.

Outro “probleminha” bastante sério é quando um dos cônjuges acha que pode "mudar" o outro após o casamento. Ninguém muda ninguém; no máximo podemos mudar a nós mesmos, ou baixarmos o nosso nível de expectativa com relação ao outro, ou com relação à união em si.

Para que um relacionamento possa subsistir, precisamos pensar mais no outro do que em nós mesmos. Tentar fazê-lo feliz, pois só assim seremos felizes, visto que desta forma o retorno do outro será mais benéfico para alicerçar a relação a dois.

Quando o homem volta ao lar, após uma jornada de trabalho, precisa do “repouso do guerreiro”; de sentir-se bem para refazer as suas forças para o dia seguinte... Como a mulher ficou o dia todo com os “metralhinhas”, cuidando da casa, da roupa e do jantar; quer ter uma conversa com alguém adulto, que lhe dê atenção e carinho... Já o marido deseja uma “meia hora” de paz para depois, já um pouco refeito, poder se inteirar das novidades familiares, curtir os filhos, rir das traquinagens...

É necessário estabelecer uma rotina familiar saudável. Por exemplo, ao chegar, o marido já encontra os filhos com o banho tomado, toma o seu banho e os entretém enquanto a esposa, cansada da correria com os filhos, ultima o jantar. As crianças, dependendo da idade, podem auxiliar a colocar a mesa para a refeição. Após o jantar, enquanto as crianças colocam o pijama, escovam os dentes e escutam uma história lida pelo pai, a esposa lava a louça. Após se deitarem os pais se despedem, deixando-os adormecer sozinhos. Isto só é uma idéia podendo variar conforme o casal preferir. É bom estabelecer um “horário padrão” pelo menos no meio da semana, pois assim as “brigas” na hora de dormir acabam e não estressam mais o casal...

Após a hora das crianças irem dormir, é importante o casal ter um momento para “se curtirem”, trocarem idéias, contarem as novidades do dia... E namorar, que ninguém é de ferro...

O amor deve ser cultivado dia a dia. Não dá para esquecer as ofensas, o descaso do dia todo e curtir uma noite maravilhosa a dois; pelo menos não para a mulher, pois para elas o sexo é um complemento de um relacionamento, uma expressão de amor... Já para o homem o sexo por si só já é válido, não importando como foi o dia para o casal. Temos que entender o significado do sexo para o homem e para a mulher. Assim poderemos entender o que o nosso parceiro(a) pensa e tentar compreende-lo(a) e chegarmos a um acordo que satisfaça a ambos.

Para um relacionamento criar raízes é fundamental que haja respeito, companheirismo e, principalmente, comunicação. Através da comunicação começamos a entender o outro, seus anseios, suas dúvidas, medos, problemas, alegrias, enfim, podermos fazer parte do “mundo do outro”. Através do exercício da comunicação podemos crescer como casal e como indivíduos.

Que tal perguntar para o outro o que o deixa mais feliz no relacionamento e tentar repetir mais vezes? Da mesma forma, procurarmos saber o que mais aborrece o outro e tentarmos evitar? Que tal procurar fazer uma surpresa para o amado? Que tal inventar para tornar a nossa história de amor singular e nos satisfazermos como casal?

Que tal?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Outro Lado da Moeda...

Carmen Sílvia Musa Lício

Já escrevi sobre a arte de envelhecer, sobre a experiência adquirida com o passar dos anos, etc e tal. Tudo o que escrevi sobre o assunto é o que eu penso...Mas, agora vou falar um pouco sobre o outro lado da moeda, não tão agradável, nem tão “dignificante”.

Bom, a gente vai envelhecendo, envelhecendo e, de repente, se olha no espelho e leva um susto! Quem é aquela do outro lado? No que me transformei? É um choque, e que choque!!! Você talvez ache um exagero, então vou contar a minha história. Quando casei tinha 30 anos. Estava naquela de “arrumar o ninho” e quis comprar um espelho “de corpo inteiro”. Na época estávamos bastante "enforcados", não só pelo casamento, mas também pela falta de dinheiro. Meu então marido achou que não estava na hora de tal façanha, afinal, além de não ser prioridade, considerava “supérfluo”. Resultou daí que ficamos 8 anos casados e nunca chegou a vez do “tal espelho”.

Um dia, estava eu andando numa rua movimentada em Pinheiros, quando levei um susto: “aquilo ali era eu?”. Então percebi que realmente era a minha imagem refletida no espelho!!! Que “acordar para a realidade”!!! Foi cruel! Envelheci 10 anos em um minuto? Não, eu que não me via no espelho por quase uma década!!! Fiquei realmente chocada... Estava beirando os 40 anos e o espelho teimava em mostrar-me esta nova realidade.

Era o início do fim... Acabei comprando o malfadado espelho, que havia sido o “meu sonho de consumo” por tantos anos...mas agora era mais um pesadelo do que um sonho realizado. As marcas estavam lá, inexoráveis!!! Aqui uma ruga, ali um início de “bigode chinês” (eu que nunca fui muito chegada aos hábitos orientais e agora tenho que ficar logo com um “bigode chinês”?...).
E isto foi só o começo...Tem mais, muito mais...

Sempre achei que envelhecer é uma arte, que devemos envelhecer com dignidade, sabendo curtir cada fase da vida; e ainda acho. Mas não me contaram da tristeza ao ver a suas pernas sempre tão lisinhas, com inúúúúmeros furinhos, nada estéticos, diga-se de passagem. E aquelas veiazinhas que insistem em se instalar sem pedir licença e sem nenhuma cerimônia? E aquelas “pequenas avenidas”, mais conhecidas como estrias? É realmente cruel...É um triste despertar para a transitoriedade da vida, para a “efemeridade” da beleza!


Realmente, a beleza não é tudo, mais importante é a beleza interior, mas não acho que precisaríamos abrir mão de um certo “sentimento de bem estar conosco mesmas”. E a nossa auto-estima? Como mantê-la? Como recobrá-la?

Continuando... De repente aparecem umas manchinhas na pele, um pouco salientes, nas pernas e braços, pelo corpo todo: - “É assim mesmo...” diz alguma amiga, querendo diminuir o nosso dissabor. Surgem também umas manchinhas amarronzadas, outras brancas... Será que depois de certa idade vamos ficando multicoloridas? Estampadas? Quantas dúvidas, quantas incertezas...


E os cabelos brancos? Sempre achei que deveriam branquear sozinhos e deveríamos deixá-los assim, afinal, cada marca, cada cabelo branco conta a história de uma vida “bem vivida”.

Não é justo! O homem, quando grisalho, é considerado um charme, mas quando é a mulher que “embraranquece” é outra história: é velhice mesmo. Ainda tem mais, quando o homem atinge os 40 anos, é considerado um homem experiente; já a mulher, no mínimo, mais “vivida”, ou “mais rodada”, como queiram.

Bom, vamos voltar “à vaca fria”, ou melhor, ao “outro lado da moeda”.

Ao me olhar no espelho, certa vez, me veio um sentimento de revolta contra um certo Isaac Newton. Não que ele tenha culpa do meu estado geral atual, mas, com a descoberta da lei da gravidade, ele me tirou a esperança de uma possível “auto-melhora” estética . Realmente, é um caso muito, muito grave; da maior gravidade. E sem muitas esperanças, já que para passar por uma “recauchutagem dos 50” é necessário muito mais do que o valor para se comprar um carro novo! (Será que é por isto que os homens muitas vezes acabam trocando a “véia lá de casa” por uma versão mais atualizada?)

Li em algum lugar que o povo brasileiro dá uma importância exagerada à “casca”, à “embalagem”, e, no afã de ficarem de acordo com os padrões “exigidos” pela nossa sociedade, muitas mulheres têm se sujeitado a tratamentos e dietas impiedosas, que às vezes deixam seqüelas terríveis, quando não levam à morte. Nós estamos vivendo dias de total inversão de valores. Enquanto jovens somos consideradas “super”, mas, à medida que vamos perdendo o “prazo de validade” somos consideradas obsoletas ou até descartáveis...

É a barriga que resolve aparecer, a “bunda” que fica caída, a “síndrome do tchau” que surge, a cintura que resolve “encorpar”, que mais falta? Ah! Os peitos também resolvem cair, e os dentes amarelar... Após a menopausa, então, o estrago fica maior... O cabelo fica mais ralo, as unhas quebradiças, a vista cansada, as roupas apertadas, realmente, é de a-m-a-r-g-a-r!!!
E a pele? Fica flááácida, “sobrando” e “apergaminhada” (não seria nada de mais se gostássemos de mapas-mundi do tempo dos “grandes descobrimentos”).

Será que me esqueci de algum detalhe mórbido? Provavelmente sim...

Depois de todo este quadro deplorável, fica aqui registrada a minha revolta:
“Abaixo a Lei da Gravidade! Que subam as bundas, os peitos e tudo o mais!!!”

Tenho dito! Ou melhor, escrito!!!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Envelhecer é uma Arte

Carmen Sílvia Musa Lício

Quando somos crianças, olhamos os mais velhos com um misto de dó e compaixão. Aliás, nesta fase, pessoas de 20 a 30 anos são consideradas por nós, ainda crianças, muiiito velhas.

É interessante como tudo depende da perspectiva que vemos. Soube, há alguns anos, de uma senhora que, ao saber que o prefeito eleito da cidade de Ubatuba tinha 60 anos, disse:-“Rapaz de futuro...”. Pois é, a “dita cuja” tinha “prá mais de 90”!!!

Após alguns anos de vida, lá pelos 15, consideramos nossos pais, no mínimo, uns “babacas”, que pensam que sabem tudo, mas não sabem nada, nem nos educar, nem gerenciar o seu dinheiro, nada...
Pois é, o tempo continua passando e, lá pelos 25-30, já casados ou “arrumados” (ou algo do “gênero”), percebemos que os coroas “até que não eram tão ruins”, que “até tentavam fazer alguma coisa” diante da vida e conosco. Nesta época ainda estamos “em pleno vigor” e “a todo vapor”. Temos saúde, amigos, condições de subsistência, ânimo, planos, muitos planos para o futuro.
Aliás, a juventude é uma sucessão de feitos e acontecimentos; podemos tudo! Seremos felizes, escolheremos a melhor companhia para passarmos o “resto das nossas vidas”, teremos filhos educados, obedientes, seremos profissionais bem sucedidos, teremos uma casa “de verdade” num “local digno”, viajaremos por “todo o mundo”, e mais isso e mais aquilo...

Mas o tempo teima em passar, e, lá pelos 40, nos vemos ainda correndo atrás ou esperando as coisas acontecerem. E as coisas nem sempre acontecem. Os filhos, adolescentes, nos questionam da mesma forma (ou mais) que questionávamos os nossos pais. Então, numa noite, ao pensarmos sobre a vida, percebemos que fomos muitas vezes injustos, super críticos com nossos pais e que eles fizeram o que puderam com os recursos que tinham e percebemos que não somos tão poderosos assim, que as nossas limitações são maiores do que imaginávamos e, o que é pior, os filhos não vêm com manual de instrução e, o que é bom para um, pode ser péssimo para o outro.
Êta aprendizado doido! (ou será doído?).

Os valores estão mudando muito rapidamente e quase tudo fica obsoleto em pouco tempo, inclusive nós...
Inclusive nós?Não dá para conceber um ser humano ser descartável. Envelhecemos, ficamos com rugas, limitações físicas, doenças crônicas, síndrome do “tchau”, um montão de coisas mas..., e a sabedoria dos mais vividos?
As coisas não nos afetam mais com aquela força que mais parece um furacão. Já passamos por tantas coisas que sabemos que “tudo passa”... Não precisamos, e nem adianta, nos desesperarmos, sabemos que sempre há um dia atrás do outro e que uma hora as coisas vão melhorar ou conseguiremos, de alguma forma, vislumbrar uma luz no fim do túnel, uma solução ou uma forma de lidarmos com o problema de uma forma mais adequada e tranqüila...

Envelhecer é uma arte!

Continuando nossa jornada... Aos 50, vemos nossos filhos saindo para viver suas vidas e nós, mais uma vez, temos que nos adequar `a nossa nova realidade. Temos que traçar novos objetivos, novas maneiras de sobrevivermos emocionalmente e de nos relacionarmos conosco, com os filhos, pais e amigos... É uma fase de uma certa solidão, uma solidão introspectiva que nos leva a repensar nossas prioridades, nossos conceitos, nossa vida...

Nesta época, se não estamos sozinhos, temos que recriar nosso relacionamento com o companheiro, para não perdermos a motivação, não cairmos na “mesmice de um relacionamento corriqueiro e incolor”. Se estamos sós, temos que nos adaptar a uma solidão mais palpável. Isto não nos impede, é claro, de procurarmos um novo companheiro ou outros interesses!

Ainda nesta fase de vida, muitas vezes, temos nossos pais para cuidar, o que não deixa de ser uma dádiva de Deus, pois eles continuam nos ensinando e nos acolhendo, dando sempre o seu apoio e incentivo. Ainda apostam em nós!
Chegamos, então, à conclusão que eles, na verdade, conseguiram fazer milagre!!! Como é que conseguiam conciliar o trabalho, a família, os afazeres domésticos, o cuidado diário com os filhos, honrar todos os seus compromissos??? E ao olharmos seus cabelos já embranquecidos, nos perguntamos: -“Será que chegaremos lá? Com esta garra, esta força, esta sabedoria adquirida com o passar dos anos???”

Nossos pais se tornam heróis!!!

Há alguns anos atrás trabalhei em uma casa de repouso onde havia aproximadamente 20 idosos. Na primeira visita fiquei um bocado chocada, pois parecia que os velhinhos estavam “guardados”, esperando o último suspiro. Acaba nos chocando por ser um espelho “do tipo”: "eu sou você amanhã". Após algum tempo percebi quanta riqueza de vida, quantas histórias tão pessoais e ao mesmo tempo tão parecidas. É um verdadeiro prazer conviver com eles: tão frágeis e ao mesmo tempo tão fortes, tão simples e ao mesmo tempo tão profundos... Cada história de vida nos enriquece; cada história de vida é única, comovente, às vezes por sua leveza, às vezes por sua densidade. E eles nos esperam e nos recebem com tanta alegria e carinho; são momentos de calor humano nos dias serenos e sem novidade de suas existências...

Mas não pensem que eu tinha algo contra os “velhinhos” e que depois percebi o “quão sábios” são. Ao contrário!
Minha avó Esther ficou paraplégica após um derrame cerebral na época em que nasci (meus "amáveis" irmãos diziam que foi do susto que ela levou ao me ver!) e eu ajudava a cuidar dela nas férias e, desde que me entendo por gente, já achava que era difícil envelhecer. Ela era muito calma e sempre contava histórias antes de dormirmos. Gostava de ler um livro chamado “Pérolas Esparsas” onde havia histórias de pessoas alcoólatras, ou que eram espancadas pelo pai, ou alguma tragédia deste “tipo”, que, quando conheciam a Jesus, eram transformadas e a vida da família também. Depois pedia para eu ler algum trecho da Bíblia e, quando eu gaguejava ou não conseguia ler alguma palavra (a página estava até gasta de tanto ler acompanhando com o dedo), ela falava o trecho de cor (e então eu pensava: “por que ela me pede para ler se já sabe tudo de cor?”).
Depois era a hora de orar por cada um dos familiares (eram citados nominalmente e, pasmem, eram quase 30!!!). Naquele tempo eu achava uma coisa , no mínimo, enfadonha, mas contribuiu muito na minha formação pessoal. Ficou acamada por mais de 20 anos e nunca a ouvir se lamuriar ou reclamar da sua situação. Ao contrário, sempre tentava nos mostrar algo, algum princípio, ao ouvir nossas histórias do dia a dia. Aprendi a amá-la e a respeitar as pessoas idosas e, desde então, já ver as suas necessidades tanto físicas quanto psicológicas.

Creio que devemos cuidar dos “nossos velhinhos” com muito amor, pois eles se tornam muito frágeis e carentes, necessitando do nosso amparo e proteção.

Quando observo minha mãe, uma octagenária, completamente lúcida, com limitações físicas e sempre se colocando à disposição dos outros para aconselhar, orar pelas pessoas, participar das suas tristezas e alegrias, esperando que os filhos e os netos a visitem, dando um pouco de atenção e aconchego para tornar sua velhice mais tépida, chego à conclusão que a vida é muito fugaz...
Devemos dar mais valor aos nossos relacionamentos, principalmente com nossos familiares e amigos mais chegados.

Apesar de envelhecermos, temos uma missão, uma função em cada fase da nossa vida e, na medida em que o tempo passa, temos mais experiência, mais paciência, mais calma para podermos passar o que pudemos aprender na vida para as outras pessoas. E continuamos a aprender, sempre!
Aí está a emoção de viver!!! A cada dia, um novo desafio, uma experiência nova, algo a aprender, algo a trocar...(Será que estou sendo romântica demais? Creio que não).

Enquanto Deus nos der o fôlego da vida, peçamos a Ele sabedoria para sabermos o que nos cabe fazer a cada dia, em cada fase da nossa vida.

Enfim, há que se envelhecer, porém, sem perder a esperança, jamais!!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Animais, Animais.... Irracionais?!?!?!

Carmen Sílvia Musa Lício

Sempre achei importante cuidar de pessoas, afinal, elas têm alma! Achava o cúmulo pessoas se importarem tanto em salvar os cachorros de rua, se descabelarem quando morriam... Com tantas crianças abandonadas, sofrendo maus tratos!

Ultimamente tenho me perguntado se não é melhor cuidar de animais; afinal, eles são mais gratos do que os "humanos".

Quando cuidamos das pessoas, muitas vezes, elas se mostram ingratas e acham que não fizemos “nada a mais que a nossa obrigação”, mesmo quando nos desdobramos e conseguimos “fazer mágica”, tirando soluções da cartola, para que elas tenham suas necessidades básicas de saúde atendidas...

Pois é, estava eu no posto de saúde onde trabalho, tentando encaixar uma usuária que havia triado e considerado necessário uma consulta médica “a curto prazo”, quando tocou o meu celular. Era a secretária da veterinária dos meus animais me lembrando do retorno de uma das minhas cadelas, a Núbia (por favor, creiam, nada pessoal; já a herdei com este nome, quando uma “amiga” disse não poder desocupar o imóvel que eu havia alugado para ela, não pagando por mais de dois anos, devido ao fato de não ter com quem deixar a “pobrezinha”, ao que respondi prontamente: “pode deixar que eu cuido dela!”)

Bom, continuei a trabalhar e me lembrei de um filme que assisti há algum tempo chamado “Vida de Cachorro” onde mostrava as agruras de um homem e o seu cão ao serem “ligeiramente” atropelados, e os cuidados do dono com o seu animal, incluindo raio-X, retornos, remédios... Mostrava ainda os cuidados recebidos pelo homem quando percebeu, após cuidar do cachorro, que também estava com dores e dificuldades para andar.


O filme é muito engraçado, pois o cão é prontamente atendido e deixado confortavelmente em casa aos cuidados da namorada do rapaz, enquanto ele tem que pegar fila para a consulta médica, fila para fazer raio-X, fila para retornar ao médico, fila para tomar o medicamento, fila para isto e aquilo, e, após a peregrinação pelo hospital durante todo o dia, ao retornar ao seu lar o telefone toca; sua namorada atende e responde ao telefone que está tudo bem e tal, e, quando ele pergunta se é o seu médico querendo saber como ele estava, ela responde que é o veterinário...


Pior ainda (sim, tudo pode piorar), quando ele, engessado, resolve sentar-se em sua poltrona preferida, e qual não é a sua surpresa ao ver que já estava ocupada pelo “melhor amigo do homem”, seu cão.

Atualmente, não tão atualmente, o valor das pessoas parece ter diminuído muito. Tanto, que o povo parece não merecer mais nada; daí o descaso das autoridades (ou seria ao contrário?). As pessoas tentam, em fila, um atendimento médico para as suas mazelas, que muitas vezes são sociais, e não conseguem... E continuam andando em busca de alguém que minimize seus males. E a burocracia é tão grande e tão ineficaz que, frente a tantos obstáculos, as pessoas acabam se virando contra as próprias pessoas que estão tentando ajudá-las, como se elas fossem as responsáveis por tanta ineficiência e infortúnio. Acabam, às vezes, se “rudimentando”, e, nessa “rudimentação” se tornando como os animais, irracionais.

Em contrapartida, os animais, quando percebem que estamos cuidando deles, nos olham de uma forma tão agradecida que até “parecem gente”!!! Demonstram gratidão, fidelidade, carinho, companheirismo... Ainda assim, são considerados irracionais... Será?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Esperando o Plantão Acabar...

Carmen Sílvia Musa Lício

É impressionante! Tem dias que tudo transcorre rapidamente, até parece que o tempo voa... Andamos de lá para cá fazendo inúmeras tarefas, atendendo cada paciente que nos procura, além daqueles que nos são encaminhados; fora os telefonemas a fazer e as muitas ligações a atender:
-“Aqui é o dr Homero, tudo bem? Aqui vai mais um caso de dengue para a vigilância fazer a visita domiciliar e a cobertura do foco”.


E lá vamos nós, os atletas da saúde, tentar dar conta de mais uma, só mais uma, além das inúmeras tarefas inadiáveis. Temos que solicitar a viatura (será que tem?), disponibilizar os auxiliares de enfermagem (que já são poucos para o trivial), dar conta do recado.

E que RECAAADO!!!

Para sermos bons profissionais temos que ser pacientes, apresentáveis, amáveis, profissionais, acolhedores, gentis, e mais isto, e mais aquilo, e muito mais, sem pensar nos entretantos e nos finalmente, é claro!!! Pois profissional que se preze tem que ser mais, muito mais...


É uma incongruência (êta palavra difícil !). Cuidamos da saúde de todos, damos soluções milagrosas (vai dizer que não é milagre conseguir exames complementares e especialistas para “um futuro próximo” na rede pública de saúde?!), fazemos e acontecemos,dentro das imensas limitações que nos são impostas. E nós não temos tempo para cuidarmos de nós mesmos, da nossa saúde, dos nossos familiares, do nosso lazer (que lazer?).


E a vida voa!!! E como voa... De repente os filhos cresceram, não “precisam” mais de nós e ficamos chocados com a rapidez com que o tempo passou e percebemos que, muitas vezes, cuidamos mais dos filhos e da família dos outros do que da nossa.

É nessa fase de vida que nos perguntamos se corremos atrás dos objetivos certos, se não valorizamos demais coisas que não deveriam ser tão valorizadas... É uma época de introspecção, de revalorização, de mudanças...

Bom, voltando ao início da nossa “conversa”, tem dias que o dia corre, mas tem dias, tem dias... que parece que o plantão vai durar uma eternidade...

É claro que é exagero, mas dá vontade de sair correndo até não ser mais encontrado, e, simplesmente, descansar. Descansar da tragédia do dia a dia alheia, dos pacientes exigentes que não cansam de lembrar-nos que são “eles que nos pagam o salário” (quem mandou ser funcionário público?), que nós temos a “obrigação” de darmos uma solução pronta para seus problemas de saúde, independentemente de termos ou não condições, e de não sermos um pronto socorro (ah! já adivinhou que trabalho num posto de saúde... ou... postinho, como dizem os usuários). Enfim, descansar de sermos diuturnamente os “repentistas da saúde”, sempre tentando dar uma solução, apesar das poucas condições locais, apesar do pouco reconhecimento, do pouco salário e até da fama de “vagabundos”.

Vagabundos!!! É de ficar estarrecido! Como podemos ser chamados de vagabundos quando ficamos, desde a hora que chegamos até a hora de sairmos trabalhando sem parar, tentando dar uma resposta a toda demanda, fora os relatórios (benditos relatórios!), os encaixes de consultas, o acolhimento da população, as escalas de serviço, a vigilância epidemiológica, os pedidos de oxigênio, a supervisão da UBS, os pedidos de medicamentos, de vacinas, de materiais, ais, ais, ais...

Você deve estar se perguntando: “Será que esta mulher escolheu a profissão certa?”. Eu mesma já me fiz esta pergunta muitas vezes, mas chego à conclusão de que gosto do que eu faço, apesar de tantos entretantos...e tão poucos finalmente.


Não há monotonia no nosso serviço, cada dia temos um novo desafio. Só gostaria de ser mais reconhecida, ter um retorno melhor, tanto financeira quanto profissionalmente.

Mas, o que nos consola mesmo é quando vemos um caso que parecia não ter solução ou muito difícil ser resolvido, não pelos trâmites usuais (pois jamaiiis seria a tempo do “infeliz” sobreviver), mas pela boa vontade de todos nós que trabalhamos de alguma forma para que tudo aconteça, apesar do descaso em que vivemos, servidores e usuários.

Assim, o mês vai passando... É verdade que o salário passa bem mais rápido que o mês e, quando conseguimos sobreviver a mais um mês, chego à conclusão que somos uns sonhadores inveterados, esperando que a Saúde um dia vá melhorar.

(publicado há uns 4 anos, mas continua atual!!! E como!!!)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"Cronicando"...

"Carmen Sílvia Musa Lício

Sempre gostei de escrever. As minha redações quase sempre eram lidas na classe e o resultado era cômico.

Me lembro certa vez que um professor de Português pediu para fazermos um texto sobre "A Moda". Tentei mostrar um panorama sobre o assunto desde a época das cavernas, seguindo pela vida afora, até os nossos tempos, falando sobre como o Homem criou e recriou nossas vestimentas, sobre o uso e desuso de peças através dos séculos...

Ele me pediu para ler para a classe e, à medida que eu ia lendo, as pessoas gargalhavam!!! O professor riu tanto, e disse que nunca viu uma redação tão engraçada!!! Confesso que fiquei um tanto surpresa, apesar de acha-la mesmo um tanto "hilária"...

Minha mãe disse que eu "puxei a veia cômica" de uma tia minha que nem conheci (!!!) Se assim foi, agradeço imensamente, pois consigo, mesmo em meio a tragédias, encontrar algo de engraçado a relatar... E mesmo uma tragédia pode se tornar uma tragicomédia! Melhor deoque chorar, creio!!! Então, "tudo vira crônica", como diz a minha família...

O resultado disto é que já escrevi umas 250 crônicas, que colocarei aos poucos , para que possam ler.

E não é que "cronicar" vicia?!?!?!

Então, mãos à obra, ou melhor, vista d'olhos já!!!
Bom Proveito!!!