quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Máquina de Fazer Doido

Carmen Sílvia Musa Lício

As pessoas andam muito estressadas. Correm de um lado para o outro tentando “abraçar o mundo”. Precisam de tanta coisa para serem felizes: de um carro novo, de uma mulher “de dar inveja”, de filhos lindos, de um emprego maravilhoso, de uma casa “pra lá de chique”, uma casa na praia, outra no sítio, blá, blá, blá, blá, blá, blá...

E, com o tempo, se tornam escravas “das coisas”, do bendito padrão. Só que a sociedade está cada vez mais consumista, cada vez mais superficial. Apesar da esperança de vida estar cada vez maior, estamos vivendo a vida cada vez mais superficialmente, nos importando mais com os “entretantos” do que com os “finalmentes”.

Será que realmente necessitamos de tanta coisa para sermos felizes? Não sou adepta de nenhuma filosofia do tipo “amor e uma cabana” mas não precisamos de um palácio!

Bom, quando coloquei o título pensei no funcionalismo público, então, vamos parar de tanto “rebosteio”.

Realmente, o funcionário público está numa situação bastante difícil. Desacreditado, sentindo-se completamente desmotivado, sem aumento há mais de 12 anos, com os filhos crescendo e com novas necessidades, com cursos a fazer para melhorar seu futuro... E os pais, pobres funcionários públicos, sendo “achacados “ pelos usuários, pelas dívidas, pela falta de perspectiva... sendo cada vez mais cobrados e sem conseguir ver “uma luz no fim do túnel”.

Então, os governantes, querendo nos desacreditar perante a população, deixam a Saúde Pública sem melhoria alguma, em nenhum aspecto, nem salarial, nem em quantidade, nem em qualidade; com toda a população a ser atendida aumentando, aumentando... Daí a população fica completamente desgostosa, revoltada, tornando o clima gerado propício à implantação de um novo modelo de assistência à saúde, a “salvação da lavoura”, que na verdade acaba sendo uma terceirização do serviço de saúde, dever do estado.

Todo o dinheiro que deveria ser empregado nos serviços já existentes com a melhoria dos salários, adequações dos espaços físicos, do número de médicos e demais funcionários, enfim, das condições básicas de atendimento, é investido na nova proposta de atendimento, alardeada como “a redenção da saúde pública”. Dá para entender o funcionário recebendo uma miséria enquanto o terceirizado recebe mais que o dobro, realizando o mesmo serviço? Por mais que eu possa pensar não consigo ver qualquer lógica em tamanho “despautério”!!!

Por que não investir no servidor já concursado, motivando-o, criando cursos de reciclagem, revendo o plano de cargos e carreiras, tão ensaiado, e que não sai do papel? Que tal rever as perdas salariais, pagar as ações ganhas há tanto tempo, pagando com os precatórios?

A mídia procura colocar o funcionário público como preguiçoso, inadequado às suas funções, mal preparado e ganhando muito, além do que merece. Vemos exemplos de pessoas que têm o hollerith avantajado... mas se esquecem de dizer que a grande maioria ganha muito abaixo do mercado, e que quando aposentamos não recebemos fundo algum de garantia. A única garantia que ainda temos, a estabilidade, já estão querendo nos tirar, fora muitas verbas, que não são incorporadas ao salário.

Sabe daquele ditado: “de grão em grão a galinha enche o papo”?. Pois é, não estou nos comparando a “galináceas”, longe disto, mas quando acabarmos a carreira, os grãos poderão nos “escorrer” do bico, ou melhor, da boca, e corremos o risco de ficarmos, no final da vida, a “mendigarmos o pão” ou dependermos dos filhos para nos ajudarem no nosso sustento.

Por que o título? É por que tenho visto muitos profissionais competentes se desestabilizarem, tanto física quanto emocionalmente, parecendo que estamos no banco da “Praça da Alegria” vendo as pessoas mais desatinadas passarem. Também!!! Estamos sendo pressionados de todos os lados; de um lado, a população cada vez mais exigente e consciente dos seus direitos; do outro, as chefias imediatas, mediatas, não tão mediatas, longínquas, remotas e sei lá mais o que, exigindo que demos conta de um público cada vez maior e, diga-se de passagem, mais ríspido. Isto para falarmos do local de serviço. Além disto, temos a família, sobrevivendo cada vez com menos condições financeiras, emocionais, “etcetera e tal”...
Por enquanto, estamos sobrevivendo a “duras penas”, sem qualquer qualidade de vida!!! E quem se importa com isto???

A maioria dos funcionários do local onde trabalho está “endividado”, “rolando” empréstimos, tentando, literalmente, sobreviver emocionalmente a tanto “stress” no serviço e em casa. Muitos estão com 3, 4 e até 5 empréstimos para poder dar conta da sua “vidinha”. Muitos que antes moravam de aluguel estão morando em favelas ou casas “semi-faveladas” devido à crescente perda do poder aquisitivo (aliás, poder de sobrevivência, pois já perderam a esperança “de tanta aquisição”).

Estamos assistindo a uma população cada vez mais “populosa” procurando um serviço de saúde cada vez mais defasado e obsoleto, os governantes só querendo fazer a sua plataforma de governo para se estabilizarem no poder, e os funcionários cada vez mais “no limite”, inclusive pedindo mais licenças médicas por “stress”, problemas emocionais e doenças mentais...

Estou enfatizando demais? Talvez...

Na verdade, este é, além de um desabafo, um grito de alerta!!! E será que alguém se importa???

Nenhum comentário:

Postar um comentário