quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Catando os Caquinhos...

Carmen Sílvia Musa Lício

Quando meu marido pediu a separação, após 8 anos de casamento, com 2 filhos de “enxoval” para criar e educar, um de 5 e outro de 2 anos de idade, me senti não só abandonada, como também destroçada. A única coisa que me “segurou” foi a necessidade de continuar a vida e cuidar dos meus dois filhotes (que são a minha maior herança) e a fé que tenho em Deus...

Fiquei “no chão”, sem saber como me levantar e prosseguir... Trabalhava durante todo o dia, e quando chegava em casa tinha que dar atenção às crianças, que nem entendiam bem a situação, cuidar deles, dar banho, jantar, contar histórias e coloca-los para dormir. Então a minha jornada diária estava terminada; e eu ficava enfim a sós para deglutir a minha tristeza, a minha solidão e pensar na minha vida, nas minhas dúvidas, e tentar me recompor para a jornada do dia seguinte... Muitas vezes orava e chorava até dormir de exaustão...

Logo que ficamos sozinhos, meus filhos dormiam de mãos dadas comigo, por medo de que eu sumisse de casa no meio da noite, e quando eu ia ao banheiro ou queria mudar de posição, eles me esperavam para dar as mãos novamente e continuarem a dormir.

Foi uma fase terrível para todos nós, e cada um reagiu como pode a este episódio nada feliz... Tive que me acostumar a tomar todas as decisões, a arcar sozinha com o peso delas, a me desdobrar para dar conta de tudo, pegar mais um emprego para dar conta de sustentar todas as necessidades sem a ajuda de um parceiro... O pior de tudo era a solidão e o desamparo que sentia..

Meu filho mais velho ficou um tanto revoltado por se sentir abandonado, não conseguindo ir bem na escola, mesmo depois de quase dois anos de separação. Creio que se sentiu completamente abandonado pelo pai, entrando em depressão e ficando mais solitário. Resolveu então ser corinthiano, já que o pai era palmeirense...

Já o caçula, após os sábados em companhia do pai, quando este se despedia, se virava para os brinquedos e era como tivesse “virado o disco”, não mais tomando conhecimento da sua pessoa... Até hoje tem um bom relacionamento com ele, sem esperar o que não pode esperar dele. Foi sua maneira de lidar com a situação. Desta forma conseguiu passar por este processo sem maiores seqüelas...

Eu, após o luto interno normal, consegui catar os caquinhos e, com a ajuda de Deus, dar a volta por cima, não sem antes amargar uma depressão ”daquelas”... Após a fase do inconformismo, veio a fase de depressão, depois a fase da esperança de uma reviravolta, depois a da sobrevivência, depois o acordar para a vida...

Nisto tudo aprendi que a nossa força vem de Deus, pois se não fosse Ele, não estaria mais aqui para escrever sobre isto; aprendi que a nossa fé deve estar firmada só nEle, que tem cuidado de nós; aprendi também o meu valor, pois cresci e vi que dá para sobreviver e ser feliz, apesar das “chuvadas da vida"

Saí do casamento sem qualquer auto-estima; não me sentia capaz de nada. Aprendi a viver sozinha com meus filhos, sem perder a ternura por eles, ou melhor, sem me tornar amarga. E tudo o que tenho, tanto materialmente, quanto psicológica e espiritualmente, consegui após a minha separação.

Deus não é maravilhoso? De uma situação triste construiu uma nova pessoa por inteiro, catando todos os meus caquinhos, colando um a um com dedicação e amor, tornando o segundo vaso muito melhor e mais resistente que o anterior, e com um brilho maior. Isto é vitória!!! É a transformação de coisas ruins em coisas boas e perenes!!!

Creio, sim, ser vitoriosa, pois, apesar de todas estas experiências, meus filhos estão bem, estudando, batalhando as suas vidas, com uma formação íntegra; temos a nossa casa, nosso carro, nossos projetos de vida, nossos momentos de convivência, aprendendo a dar mais valor e a cultiva-los com alegria.

Agora, o que vier é lucro! E creio que teremos muitos lucros ainda!!!
Graças a Deus!!!