quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Esperando o Plantão Acabar...

Carmen Sílvia Musa Lício

É impressionante! Tem dias que tudo transcorre rapidamente, até parece que o tempo voa... Andamos de lá para cá fazendo inúmeras tarefas, atendendo cada paciente que nos procura, além daqueles que nos são encaminhados; fora os telefonemas a fazer e as muitas ligações a atender:
-“Aqui é o dr Homero, tudo bem? Aqui vai mais um caso de dengue para a vigilância fazer a visita domiciliar e a cobertura do foco”.


E lá vamos nós, os atletas da saúde, tentar dar conta de mais uma, só mais uma, além das inúmeras tarefas inadiáveis. Temos que solicitar a viatura (será que tem?), disponibilizar os auxiliares de enfermagem (que já são poucos para o trivial), dar conta do recado.

E que RECAAADO!!!

Para sermos bons profissionais temos que ser pacientes, apresentáveis, amáveis, profissionais, acolhedores, gentis, e mais isto, e mais aquilo, e muito mais, sem pensar nos entretantos e nos finalmente, é claro!!! Pois profissional que se preze tem que ser mais, muito mais...


É uma incongruência (êta palavra difícil !). Cuidamos da saúde de todos, damos soluções milagrosas (vai dizer que não é milagre conseguir exames complementares e especialistas para “um futuro próximo” na rede pública de saúde?!), fazemos e acontecemos,dentro das imensas limitações que nos são impostas. E nós não temos tempo para cuidarmos de nós mesmos, da nossa saúde, dos nossos familiares, do nosso lazer (que lazer?).


E a vida voa!!! E como voa... De repente os filhos cresceram, não “precisam” mais de nós e ficamos chocados com a rapidez com que o tempo passou e percebemos que, muitas vezes, cuidamos mais dos filhos e da família dos outros do que da nossa.

É nessa fase de vida que nos perguntamos se corremos atrás dos objetivos certos, se não valorizamos demais coisas que não deveriam ser tão valorizadas... É uma época de introspecção, de revalorização, de mudanças...

Bom, voltando ao início da nossa “conversa”, tem dias que o dia corre, mas tem dias, tem dias... que parece que o plantão vai durar uma eternidade...

É claro que é exagero, mas dá vontade de sair correndo até não ser mais encontrado, e, simplesmente, descansar. Descansar da tragédia do dia a dia alheia, dos pacientes exigentes que não cansam de lembrar-nos que são “eles que nos pagam o salário” (quem mandou ser funcionário público?), que nós temos a “obrigação” de darmos uma solução pronta para seus problemas de saúde, independentemente de termos ou não condições, e de não sermos um pronto socorro (ah! já adivinhou que trabalho num posto de saúde... ou... postinho, como dizem os usuários). Enfim, descansar de sermos diuturnamente os “repentistas da saúde”, sempre tentando dar uma solução, apesar das poucas condições locais, apesar do pouco reconhecimento, do pouco salário e até da fama de “vagabundos”.

Vagabundos!!! É de ficar estarrecido! Como podemos ser chamados de vagabundos quando ficamos, desde a hora que chegamos até a hora de sairmos trabalhando sem parar, tentando dar uma resposta a toda demanda, fora os relatórios (benditos relatórios!), os encaixes de consultas, o acolhimento da população, as escalas de serviço, a vigilância epidemiológica, os pedidos de oxigênio, a supervisão da UBS, os pedidos de medicamentos, de vacinas, de materiais, ais, ais, ais...

Você deve estar se perguntando: “Será que esta mulher escolheu a profissão certa?”. Eu mesma já me fiz esta pergunta muitas vezes, mas chego à conclusão de que gosto do que eu faço, apesar de tantos entretantos...e tão poucos finalmente.


Não há monotonia no nosso serviço, cada dia temos um novo desafio. Só gostaria de ser mais reconhecida, ter um retorno melhor, tanto financeira quanto profissionalmente.

Mas, o que nos consola mesmo é quando vemos um caso que parecia não ter solução ou muito difícil ser resolvido, não pelos trâmites usuais (pois jamaiiis seria a tempo do “infeliz” sobreviver), mas pela boa vontade de todos nós que trabalhamos de alguma forma para que tudo aconteça, apesar do descaso em que vivemos, servidores e usuários.

Assim, o mês vai passando... É verdade que o salário passa bem mais rápido que o mês e, quando conseguimos sobreviver a mais um mês, chego à conclusão que somos uns sonhadores inveterados, esperando que a Saúde um dia vá melhorar.

(publicado há uns 4 anos, mas continua atual!!! E como!!!)

2 comentários:

  1. *
    e lá vamos nós,
    os atletas da saúde, dizes !
    ,
    e eu adivinhava a tua vontade
    de seres Cristo ordenares:
    sai da tua enxerga, Levanta-te e anda !
    ,
    In- (Lucas 5, 17-37)
    ,
    conchinhas de bem-hajas,
    ficam,
    ,
    *

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  2. Nossa, poeta, que grata surpresa!!!

    Até que não era mal, hein???

    Mas eu não tenho esta pretensão...rssss

    Fiquei muito feliz pela sua visita e espero que goste dest meu novo espaço, que pretendo que vire um livro.

    abçs atléticos

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