domingo, 4 de setembro de 2011

Às Empregadas...

Carmen Sílvia Musa Lício

Este artigo é uma homenagem às empregadas, pelo menos a algumas, consideradas mais do que “meras empregadas”...

Sempre tive uma relação de amizade com as minhas “assessoras do lar”. Não consigo entender como pode haver uma luta de empregadas x patroas. Sei que é uma luta de classes e que não é um dos relacionamentos mais fáceis... mas não é impossível.

Da mesma forma que precisamos delas, parece que muitas vezes queremos demonstrar “o quão desnecessárias” são. A briga maior fica por conta do salário. Quanto vale o seu serviço?

Às vezes nos tornamos piores que os nossos chefes (dá para acreditar?) Exigimos, exigimos e nunca agradecemos, ou elogiamos; afinal, são “nossas empregadas”. Só que o salário muitas vezes está aquém de tantas tarefas, tantos dissabores... Ainda têm que “agüentar” os “pimpolhos da mamãe”, às vezes, verdadeiros “pivetes”, querendo sempre mais isto, mais aquilo, mais e mais...

Costumo dizer, brincando, que elas são “um mal necessário”, que nos ajudam em casa enquanto trabalhamos fora. Digo ainda que se “ruim com elas, pior sem elas”. Aliás, confesso que prefiro trabalhar fora a ficar o dia todo limpando a casa, lavando e passando roupas, cuidando “sempiternamente” dos nossos “amorosos rebentos”.


Muitas vezes, ficam tão presentes que acabam fazendo parte da nossa família, pois cuidam de nós, dos nossos filhos e da nossa casa mais do que nós mesmas, que chegamos em casa, após a jornada de trabalho, nos sentindo cansadas e “sugadas até o osso e o caroço”.

Já tive várias “secretárias do lar”. Cada uma tem as suas preferências, seus pontos fortes, suas “manias”. Uma gostava de passar lustra-móveis até os móveis ficarem encharcados de tanto óleo, outra detestava, deixando os móveis “esturricados”. Umas se “penduram no telefone” e você não consegue ligar para casa nem para falar com ela; outra detesta tanto o telefone que não o atende, ou se esquece de dar os recados... Mas todas fizeram parte, em algum momento, da nossa vida familiar.

Da minha parte, considero que tive boas empregadas... Será sorte? Pode ser, mas creio que depende de como as tratamos. Não adianta ficarmos “gritando escalafobéticamente” para nos fazermos ser entendidas; devemos ser claras sem ser mal-educadas. Dá para se falar “tudo”, dependendo da forma como falamos e, quando as tratamos com respeito e dignidade, ficam agradecidas e correspondem de forma positiva.

Considero o serviço das empregadas dos mais difíceis, além de chato. Têm que agradar a todos da família, até aos animais! E o serviço, além de maçante e "todo dia a mesma coisa", é árduo e diversificado (lavar, passar, cozinhar, fazer faxina, cuidar dos animais, limpar vidros, portas, paredes, lembrar que a ração está acabando, que a água do galão está no fim, economizar água, luz, manter um bom relacionamento com os filhos da patroa, não aborrecer o patrão, lembrar do que falta comprar; às vezes lavar o carro e, quem sabe, até os animais...).


Cada patroa tem as suas prioridades, o seu jeito de limpar; sua própria rotina, suas manias... São muitas adaptações, de ambas as partes. Considero-as bastante importantes e, se pudesse, pagaria bem mais... Creio também ser necessário mantermos um bom relacionamento; afinal, elas cuidam de nossas casas e dos nossos familiares... Como vou trabalhar tranqüila sem saber se “a própria” está com raiva de mim e vai “descontar” nos meus filhos? Ou desforrar nos animais de casa? Ou nas coisas que compramos com tanto sacrifício? Eu, hein? Se não for por respeito, que seja por cautela, ou por “política de boa vizinhança”!!!

Procuro realmente ser amiga. É difícil conviver na sua própria casa com uma pessoa mal humorada. Não dá!!!


E os deveres? E os direitos? Às vezes as coisas se confundem, pois o vínculo não é só empregatício... acaba sendo criado um elo de amizade.

Quando saem da minha casa, normalmente saem como amigas; me ligam no final de ano, desejando “um feliz natal”, perguntando como estão as “crianças” (um já tem 22 anos e o outro 20 anos). Isto quando não ligam para conversar, falar sobre as mazelas da vida, dos progressos, dos filhos, do marido... Várias delas me ligam como amigas! São laços adquiridos através dos anos, através da vida.

Tive uma empregada que ficou comigo por muitos anos, entre idas e vindas. Ela tinha acabado de se casar e eu de me separar. Tinha uns 20 anos e era muito imatura. Meus filhos foram cuidados por ela por mais de 12 anos. Quando entrou em casa, meus filhos tinham 5 e 2 anos de idade. Era muito solícita, espontânea, falando coisas que eu jamais falaria para um patrão. Se tivesse com idéias de me “sacanear”, ela mesmo se entregava...Eu acabava rindo da sua ingenuidade...

Acompanhei “a vinda” dos seus filhos, pois os teve enquanto trabalhava comigo, o “rame-rame” do seu casamento, as suas dificuldades na criação dos filhos, a construção da sua casa... Tornamo-nos amigas. Até hoje seus filhos me tratam por tia... Eu a considero como uma filha, e é gratificante.

Digo a ela que nós fazíamos a “nossa terapia gratuita”, pois antes de sair para o trabalho eu contava as minhas tristezas familiares e “trabalhísticas” e ela fazia o mesmo. Daí eu saia mais calma para o trabalho e ela ficava em casa mais tranqüila.


Até hoje rimos de alguns episódios... Ficou “tão de casa” que às vezes dava palpite no modo como eu tratava os meus filhos, que eu mimava mais um, ou algo semelhante. Era muito engraçado... Ela diz que aprendeu muito comigo, e eu fico contente em poder ter sido útil na sua vida de alguma forma. Em contrapartida, ela me auxiliou muito!

Uma vez o marido foi embora, deixando-a sozinha com dois “infantes” para criar. Um estava com uns 9 anos e o outro com uns 8 anos. Entrou em depressão, chorando muito “pelos cantos da casa”. Quando vi que sua tendência era “afundar”, incentivei-a para que estudasse e terminasse o ensino fundamental. Acabou terminando e o marido voltando para o lar. Após algum tempo, novamente ficou sozinha com os “rebentos”. Mais uma vez a incentivei a estudar e ela acabou terminando o segundo grau. Foi uma vitória! Nunca me esquecerei da sua alegria na noite da sua formatura!!!

Depois comecei a encorajá-la a continuar os estudos. Falei que ela poderia fazer uma faculdade, por que não? Ela achou que no momento não dava para tanto, e perguntei por que não fazia um curso técnico, de enfermagem, por exemplo. Claro que pensei nisto por já ser da área, e por ver como ela tratou muito bem minha mãe, então com 80 anos, quando ela ficou em casa por mais ou menos 2 meses, em depressão profunda pela morte do meu irmão mais velho. Ela a tratou com muito carinho e cuidado. Mas, daí, o “jovem mancebo”, o "maridaço", resolveu retornar ao lar, e suas expectativas de alçar vôo foram adiadas...

Nesta época eu estava numa dificuldade financeira terrível, e, pela primeira vez pensei em dispensá-la. Na verdade eu já teria que ter dispensado antes, mas, como iria deixá-la desempregada com dois filhos? Realmente não é a minha primeira opção, pois considero um serviço de primeira necessidade e acho “uma sacanagem” dispensá-la na primeira dificuldade, inclusive por ter uma família para sustentar... Comecei a orar e pedi a Deus por uma solução, que veio logo. Sua primeira patroa, que a dispensou porque iria casar e ela queria que continuasse a dormir no emprego, a encontrou e perguntou se queria voltar a trabalhar para ela. Patrícia me contou, toda sem graça, e eu dei graças a Deus, pois seu sustento já estava garantido.


Está trabalhando para ela já faz um ano, mas sempre aparece para me auxiliar, passar roupa e por a conversa em dia. Continuamos boas amigas...Às vezes saímos para fazer compras e conversarmos. É uma boa companhia. Até hoje rimos muito, eu, ela e as crianças...

Pois é, a sua nova patroa disse que, se depender dela, ela aposenta lá! Grande futuro!!! Fiquei chocada, depois de tantos planos novos para sua vida... Aí você vê o respeito pelo ser humano...
Se depender de mim, ela continua os estudos e se aposenta em uma profissão que goste e que se sinta realizada.

Vejo esta profissão como uma fase na vida de uma pessoa, não que seja “desmerecedora”, mas por ser muito desgastante, principalmente fisicamente. Prefiro apostar na evolução do ser humano!
Muitas pessoas não têm oportunidade de estudar e fazer seus planos para o futuro, por isso procuro ajudá-las. E enquanto elas traçam suas vidas, me ajudam como podem, se esforçando ao máximo, tanto na escola quanto em casa. Todos ficamos felizes!

Atualmente estou dividindo uma nova empregada com minha mãe; ela vai 4 vezes por semana para a casa dela e 2 vezes por semana para a minha casa. Está “super” feliz; além de ganhar mais, já a incentivei a estudar e já está começando a ler e escrever... Com certeza vai ser uma nova história...

8 comentários:

  1. *
    Linda,
    Gostei do teu postado !
    ,
    retorno
    e o meu regresso
    tem as asas da boa vaga
    esquecendo a onda amarga
    tão triste no seu quebrar,
    porém, é belo o seu trovar,
    ecos fortes e salgados,
    na Paz , “standarizada” !
    dos meus votos sagrados,
    que aqui deixo, bem expresso !
    ,
    conchinhas, muitas, para ti !
    *

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  2. VENHO CARINHOSAMENTE LHE DESEJAR UM FELIZ ANO NOVO. FELICIDADES EM 2012. QUE SEUS SONHOS SE REALIZAM E SEUS PROJETOS TAMBÉM.

    Quero desejar a VOCÊ, um excelente Ano Novo, repleto de alegrias, Paz e amor.
    Que a virasa do ano novo seja de reflexão, um momento especial para repensar tudo o que foi feito e ainda desejamos fazer. Feliz Ano Novo.
    Que 2012 seja repleto de SAUDE, PAZ, ALEGRIA E AMOR, além de muito SUCESSO!!
    Que em 2012 nossa AMIZADE seja ainda melhor. Que sejamos Amigos Para Sempre...Nossa amizade é alegre, Sincera, gostosa e tem muitas atitudes. A vida ganha um novo sentido com ela.
    Que em 2012, você possa abrir seu coração e sonhar muito...Realizar muito...Sorrir Muito...Ser muito Feliz.. Sonhe.. Deseje...Realize..
    Seja muito Feliz e volte a ser criança...viva com muita emoções...
    Lhe desejo um Feliz Ano Novo, cheio de Luz, Alegria, Amor, Paz, Sucesso e Saúde...Que você realize todos os seus desejos e sonhos, mas principalmente que continue a sonhar...Sempre...
    Feliz ano Novo.. Cheio de Energias boas e muita Luz, para guiar seus caminhos.
    Carinhosamente,
    Sandra

    HAPPY NEW YEAR.

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  3. Amiga, gostei tanto do post, eu tenho um respeito especial pelas empregadas, é "um mal necessário", Não!
    Minha mãe precisou de uma, quando esteve adoentada e foi um anjo na nossa vida*
    Te peço por favor escreve mais, ou entrei no blog errado, mas valeu muito te ler.Beijo grande.
    Mery*

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  4. Poetaes:

    Estou sem computador em casa e so as vezes tenho conseguido acessar os meus blogs...
    Fiquei contente e honrada pela sua visita e pelo seu comentario tao amavel!!!

    bjs, querido

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  5. Sandra:

    Fiquei muito feliz pela sua presença e pelo seu carinho!!!

    Feliz Ano Novo para voce tambem!!!

    Espero que neste ano eu possa estar mais presente aqui e nos blogs dos meus amigos!!!

    Ate mais...

    bjs

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  6. Mery:

    Que bom que voce despencou aqui...rsrsrs

    Melhor ainda saber que voce gostou!!!

    Tenho muitas cronicas para colocar aqui e estou escrevendo outras... Espero voltar logo aqui e nos blogs dos meus amigos.
    Prometo!!!

    bjs, querida

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  7. Que belas cronicas. Parabéns. será que um dia escreverei assim?
    Tenha uma ótima semana.

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  8. Obrigada!!!

    Espero que sim! Afinal, isto não é tão difícil assim. Comece e depois você pega o gosto e o jeito... rssss

    bjs

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